Literacia Financeira – Resultados da CMVM indicam que 64% da população portuguesa nunca investiu
Foram divulgados os resultados de um estudo sobre literacia financeira relativa ao mercado de capitais em Portugal pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). O objetivo deste estudo visa analisar e comparar o perfil entre investidores e não investidores nacionais, nomeadamente as suas atitudes, comportamentos e conhecimentos financeiros, de forma a apoiar a CMVM na elaboração de futuras estratégias de promoção da literacia financeira em Portugal.
Este tipo de estudos já foram anteriormente realizados em 2011 e 2015, em conjunto com o Banco de Portugal e pela Autoridade de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) e encontram-se disponíveis na plataforma Todos Contam.
Este ano, os principais resultados do estudo foram apresentados durante o seminário “Literacia sobre mercados de capitais em Portugal: diagnósticos e desafios“, evento organizado de forma a comemorar os 30 anos da CMVM.
O estudo envolveu mais de 15.000 portugueses, analisando os níveis de literacia financeira em 4 capítulos. O 1º capítulo foca-se nas atitudes e comportamentos dos portugueses face à gestão da poupança e dos rendimentos e despesas, o 2º nos conhecimentos financeiros, o 3º nas atitudes e comportamentos nas decisões de investimento ou de não investimento, e finalmente o último na informação e perceção do funcionamento do mercado.
CMVM considera que conhecimento financeiro tem vindo a aumentar
“O conhecimento financeiro tem vindo a aumentar ao longo do tempo “havendo uma melhoria na generalidade “desde o último inquérito em 2015, incluindo nas questões numérias genéricas e no conhecimento sobre investimento”, é uma conclusões identificadas neste estudo da CMVM.
Contudo, foi observado que apenas 28% da população portuguesa investe (8% já foi investidor) e 64% nunca investiu o seu capital em qualquer ativo financeiro.
Um fator muito importante para investir nos mercados é o acesso ao capital. A liquidez e disponibilidade de rendimento são as principais razões para os portugueses iniciarem ou deixarem de investir, com 31% e 63% respetivamente.
É assim conclusivo que quanto maior o rendimento auferido, maior a probabilidade do inquirido ser, ou ter sido um investidor no passado. No entanto, cerca de um terço dos investidores desta amostra, possuem rendimentos inferiores a 1.000€ mensais.
Quanto à poupança, mais de um terço dos entrevistados não poupou nos 12 meses anteriores e a percentagem da poupança permanece abaixo da média UE (7% em Portugal vs 11,96% na União Europeia).
Baixa escolaridade ainda é um problema
São vários os estudos realizados nesta temática, em Portugal e outros países, que relacionam diretamente os níveis de escolaridade da população com os níveis de literacia financeira. Foi também evidenciado uma correlação positiva entre as habilitações académicas e a propensão para investir. No entanto, os níveis de escolaridade identificados neste estudo são considerados preocupantes: 59% dos inquiridos não possuem o ensino secundário completo, apenas 17% desta amostra afirma ter finalizado o ensino obrigatório, alargado em 2009 até o 12º ano. O valor desce para 14% quando é identificada a população com nível de educação superior.
Outro aspeto potencialmente relacionado e referido neste estudo, é a quantidade de portugueses que usam internet. De acordo com a Eurostat em 2020, a percentagem do uso da Internet em Portugal, com 79%, ainda se encontra abaixo da média da União Europeia (89%).
Portugal permanece no fundo da lista, entre países-membros da União Europeia nesta categoria, onde apenas a Bulgária e a Itália obtém os piores resultados, com 74% e 78% respetivamente.
No estudo da CMVM, 60% dos investidores afirmam que recorrem à internet em busca de informações financeiras, sendo a base de informação mais usada.
Portugueses confiam menos nos bancos e são conservadores na hora investir, mas têm dificuldade em calcular juros compostos
Questionados sobre qual a fonte de informação em que mais confiam para tomar uma decisão na escolha de um investimento, 46% dos entrevistados revelam seguir o conselho dos funcionários pertencentes à instituição bancária. Esse valor desceu consideravelmente face ao estudo de 2015, nessa altura registava 59,1%.
Sobre a escolha de investimentos, é questionado “em que tipo de ativo(s) financeiro(s) investiria € 100.000?“. Cerca de 42% dos investidores afirmam que preferiam investir num depósito a prazo, esse valor sobre para 46% no caso dos não-investidores.
De forma a avaliar dos conhecimentos financeiros dos inquiridos, foram colocadas questões sobre inflação, funcionamento de juros (simples e compostos) e uma questão de cálculo básico. Enquanto na questão de cálculo, mais de 90% dos inquiridos respondeu corretamente, nas questões sobre inflação e juros simples, o volume de respostas certas diminui.
Na pergunta sobre inflação 66,5% dos investidores responderam acertadamente, contudo, avaliando os não-investidores apenas 47,7% respondeu corretamente.
Passando para as questões de juros essa distância aumenta, 82% dos investidores conseguem acertar na pergunta sobre juro simples e 60,7% dos não-investidores também respondem corretamente.
A situação agrava-se na questão sobre juros compostos. Apesar de ligeira diferença, 45% dos não-investidores responderam corretamente à questão, ficando à frente dos investidores com apenas 44,3%. Ou seja, mais de metade dos inquiridos erraram nesta questão, não havendo grande diferença entre os grupos.
Finalmente é ainda colocada uma questão sobre a definição de Euribor*, mas apenas 18% respondeu corretamente. Ainda assim, o volume de respostas certas cresceu mais de 10% face ao inquérito de 2015 que também incluía esta pergunta.
O estudo concluí que são os homens que acertam mais corretamente às questões sobre conhecimentos financeiros. A faixa etária entre os 70 e 79 anos possuem mais respostas certas, enquanto os inquiridos entre os 18 e 24 anos registam o maior número de respostas incorretas.
Estudo - "Financial literacy for investors in the securities market in Portugal"
A pesquisa foi organizada pela Comissão de Mercados de Valores Mobiliários e realizada pelas companhias KPMG e VVA em Portugal continental e nos arquipélagos dos Açores e da Madeira. O estudo foi realizado entre 2020 e o início de 2021 com questionários de autoavaliação em videochamada e por telefone. Foram realizadas 15.173 entrevistas a portugueses maiores de 18 anos.
47 % dos inquiridos eram do género masculino e os restantes 53% feminino.
Poderá aceder à totalidade do estudo neste link.
*Euribor é a média das taxas de juro impostas nos empréstimos em euros, entre um grupo específico de bancos