ETFs de obrigações (bonds) – Conheça melhor este tipo de ativo

Os ETFs de obrigações, também conhecidos como Bond ETFs, são considerados interessantes mas um pouco mais complexos do que os normais ETFs de ações (equities). Este tipo de ativos são também referenciados como ETFs de rendimento fixo, registam menos volatilidade e oferecem menos riscos face aos outros tipos de ETFs, contudo os seus valores de rendibilidade são também mais reduzidos. De salientar a importância de diversificar o seu portfolio com ETFs de obrigações, pois num cenário de queda do mercado bolsista, podem diminuir as suas perdas face aos ETFs de ações.

Para compreender melhor sobre ETFs de obrigações é importante perceber que obrigações (bonds) são empréstimos concedidos a diferentes entidades, como as empresas privadas ou aos Estados. Nesta operação são definidas três elementos básicos essenciais: o montante a emprestar, a duração do empréstimo e a taxa de juro aplicada. Durante o período do empréstimo, o investidor receberá um valor anual de acordo com a taxa negociada, esse valor a receber pelo investidor designa-se como coupon rate.
Os ETFs de obrigações conseguem englobar uma quantidade elevada de obrigações no mesmo produto, o que permite aos investidores aumentar a diversificação, tal e qual como os ETFs de ações. 

ETFs de obrigações, quais as semelhanças com os ETFs de ações?

Para entender melhor este produto financeiro, vamos primeiro enumerar as semelhanças com os ETFs mais comuns, os ETFs de ações (equities).

Os ETFs de obrigações também seguem índices. Existem um conjunto de índices que apenas integram obrigações, mas que podem variar no tipo de ativos. Existem índices dedicados a obrigações de empresas (Corporate), Estados (Government), podendo ser alocados em diferentes áreas geográficas ou emitidos em determinadas moedas. Algo muito presente na descrição de um índice de obrigações é a sua durabilidade média, ou seja, o período de maturidade desse conjunto de empréstimos. Alguns dos índices mais populares:
ICE U.S. Treasury 1-3 Year Bond Index: Engloba obrigações do Tesouro dos EUA, de curto prazo (1 a 3 anos);
Bloomberg Barclays Euro Corporate 1-5 Year Bond Index: Obrigações de empresas emitidos em Euro, com maturidade de curto a médio prazo (1 a 5 anos);
The Bloomberg Barclays Global Aggregate Bond Index: A designação Aggregate indica que estão incluídos obrigações de empresas e de Estados no mesmo índice, neste caso específico, com exposição à escala global; 

Podem ser acumulativos ou haver distribuição de dividendos. Outra das semelhanças, com os ETFs de ações é a possibilidade de haver distribuição de dividendos ou serem acumulativos. Numa ótica de simplificação fiscal é recomendado aos investidores residentes em Portugal a escolha de ETFs acumulativos;

Possuem um Total Expense Ratio (TER) associado. Tal como os ETFs de ações, também está associado uma percentagem de custo total, com a mesma designação – TER. Possuem valores percentuais próximos aos ETFs de equities, podendo ir dos 0,05% aos 0,80% dependendo do portfolio;

Mesmo método de aquisição ou venda. Os ETFs de obrigações são adquiridos ou vendidos exatamente da mesma forma, como uma simples ação de uma empresa ou um ETF de ações;

As grandes diferenças

Verificado as semelhanças, vamos analisar as grandes diferenças entre ETFs de obrigações e ETFs de ações.

Os preços dos ETFs de obrigações pouco importam, o que vale são as Yields. 
Enquanto nos ETFs de ações o preço do ETF (ou o NAV) é o principal indicador de performance, nos ETFs de obrigações o preço não é muito relevante. Um dos indicadores mais importantes neste ativo é a sua yield, que é a taxa de retorno deste investimento. Esta informação é divulgada pelo emissor da obrigação, sendo definido como Yield To Maturity (YTM). O YTM é um dado muito importante e designa a percentagem de retorno até ao período de maturidade desse empréstimo. É precisamente esse valor percentual que o investidor irá receber, considerado como resultado futuro efetivo, daí este investimento ser designado como rendimento fixo.
Irá encontrar o YTM na respetiva Factsheet do ETF de obrigações, discriminada como Weighted Average Yield To Maturity, isto porque é calculada a partir da média de todas as yields incluídas nesse ETF, o que origina a constantes mudanças neste valor;

A importância da Duração da obrigação. O tempo a que está associado o empréstimo é uma das informações mais importantes a reter, pois associa o nível de risco neste tipo de investimento. As durabilidades podem ser de curto prazo (1 a 3 anos), médio prazo (3 a 7 anos) ou superiores a 10 anos. Implica planeamento alocar o nosso capital num investimento a longo prazo, como o caso das obrigações. Dependendo muito da sua estratégia, aqui poderá optar por um ETF de longo prazo, que estará mais exposto a alta volatilidade no mercado, mas conseguirá melhores yields e/ou obter maior rendibilidade num cenário de crash bolsista, podendo vender as suas posições a um preço superior ao que comprou.
Poderá escolher também uma estratégia a médio prazo de forma a ganhar mais flexibilidade em situações de alterações de mercado (aumento da inflação ou das taxas de juro, por exemplo), contudo estando exposto a menor risco, o valor das yields serão mais baixas. Esta estratégia, no entanto, é a mais recomendada entre os investidores.
De salientar que os ETFs de obrigações não possuem uma data de maturidade fixa, pois o seu portfolio sofre sucessivos reajustamentos realizados pelo emissor;

Abaixo fica um exemplo de uma Factsheet da iShares onde conseguirá encontrar esses valores:

Outros aspetos a considerar

Os ETFs de obrigações sendo um investimento mais complexo e que exige mais planeamento comparativamente aos ETFs de ações, têm um conjunto de aspetos que dever ter em atenção:

Ter em conta a inflação. Considere os valores atuais ou previstos da inflação neste tipo de investimento. ETFs de obrigações a longo prazo podem ser mais suscetíveis em perdas relacionadas com o consequente aumento da inflação. Também já existem no mercado alguns ETFs com proteção à inflação, muitos deles com a designação “Inflation-linked”;

Evitar as perdas cambiais. Neste tipo de ETFs é recomendado a escolha de ativos transacionados na moeda local, ou protegidos a variações de moeda (hedged). Portanto, se for residente em Portugal, prefira ativos negociados em euros ou euro hedged, de forma a evitar flutuações cambiais e possíveis perdas;

Conhecer o Rating de Crédito do ETF de obrigações. O rating de crédito é um sistema de classificação da qualidade do crédito para cada obrigação, ao qual é avaliado o nível de risco do incumprimento. Esta avaliação é efetuada pelas agências financeiras especializadas, como a Moody’s, Standard & Poor’s ou Fitch. A sua classificação vai de AAA (mais alta e com menos probabilidade de incumprimento) até D (mais baixa). Uma classificação abaixo de BBB (ou Baa2 na Moody’s) é considerada uma dívida de risco, também conhecida como Junk Bond, obtendo yields mais elevadas pelo seu maior risco associado. Esta informação é prestada pelo emissor do ETF na seção Credit Quality, sendo importante a sua consulta para conhecer o nível de risco presente em cada ativo;

Os ETFs de obrigações em dívidas dos Estados geram mais proteção. Os chamados Government Bonds são conhecidos por conseguirem suportar melhor períodos de crises financeiras, contudo também apresentam yields mais baixas, ou até negativas. Se preferir ir em busca de uma yield superior, os Aggregate Bonds que combinam dívidas dos Estados e de empresas no mesmo ETF, podem ser uma solução. Se optar apenas por ETFs de obrigações em empresas, é aconselhado diversificar este tipo de investimento, seja em diferentes setores, como em exposição geográfica ou na qualidade do crédito.

 

   by Miguel Oliveira