Métodos de replicação em ETFs – Quais as diferenças?

Num dos artigos anteriores foram demonstrados 5 tipos de ETFs com alguns exemplos mais populares, que poderá encontrar no mercado. Concluímos que na maioria dos casos, os ETFs independentemente de possuírem ações de empresas, obrigações ou commodities, possuem o objetivo de replicar um índice. Neste artigo iremos aprofundar o tema e abordar quais as técnicas que os emissores de ETFs usam para replicar esses índices e entender quais as vantagens ou desvantagens para os investidores. Existem dois métodos maioritariamente usados: a replicação física e sintética:

Replicação Física

Este é o método mais tradicional adotado e divide-se em dois géneros:

Replicação Física completa (Physical Full replication), é replicado o índice de forma total, ou seja, todos os títulos incluídos num ETF são exatamente iguais, seja na representatividade das empresas constituintes, como as proporções exatas do seu peso, à constituição desse índice.
Já foram analisados alguns ETF com este método de replicação:
– iShares Core S&P 500 UCITS ETF (SXR8);
– Xtrackers Nikkei 225 UCITS ETF 1D (XDJP);

Este é o método mais simples e transparente, que garante um desvio quase impercetível entre os retornos de um ETF e a performance do índice ao qual segue. Contudo, este método implica seguir o índice de forma rígida, o que pode originar mais reajustamentos num ETF no caso de existirem alterações na constituição do seu índice. Todas as alterações realizadas num índice, terão de ser feitas nesse ETF de forma simultânea, o que obriga à empresa emissora desse ETF uma maior eficiência e organização do seu portfolio bem como, mais capital para responder aos sucessivos reajustamentos no índice. Por esse facto, este método pode implicar mais custos, ou seja, um TER mais alto para os investidores.   

Replicação Física por amostragem otimizada (Physical Optimized sampling) 

Quando não há possibilidade de replicar o índice na totalidade, seja por insuficiência de capital, elevados custos ou na dificuldade em obter um determinado ativo, é possível aplicar a replicação por amostragem. Ou seja, é replicado o índice mas não de forma completa, podendo haver exclusão de determinados ativos incluídos no índice ou diferenças na sua proporção desses ativos.
Alguns exemplos de ETFs já analisados que usam este método:
– SPDR Russell 2000 U.S. Small Cap UCITS ETF (ZPRR);
– Xtrackers MSCI World Value UCITS ETF 1C (XDEV);

Neste tipo de replicação, tende a existir uma tentativa de otimização de um índice, adquirindo apenas os melhores ativos ou os mais influentes na sua performance, para constituição de um ETF. A grande vantagem neste método é a redução de custos, seja de aquisição ou de gestão, especialmente quando o índice é de grande dimensão, com um elevado número de empresas constituintes. Uma das principais desvantagens é o maior desvio entre a performance do índice e o respetivo ETF, especialmente se o ETF for otimizado de uma forma agressiva, pode originar uma maior volatilidade no seu desempenho comparativamente ao índice. Uma possível forma de analisar o nível de volatilidade é pelo tracking error, demonstrado num ETF. 

Replicação Sintética

Este é um método de replicação mais complexo comparativamente à replicação física. Neste tipo de ETF não há investimento direto na aquisição de ativos correspondentes a um determinado índice, mas sim a celebração de um contrato de troca (swap) com uma ou mais entidades financeiras. Desse modo, o ETF é construído com um conjunto de títulos variados (fora do índice de referência) que depois troca os rendimentos arrecadados com as entidades financeiras contratualizadas. Essa entidades garantem os rendimentos do índice referenciado nesse ETF.

Veja por exemplo a nossa análise ao Lyxor MSCI India UCITS. Este ETF não detém nenhum titulo de empresas cotadas no mercado bolsista indiano, mas inclui em carteira ações da Schneider, Sanofi, Danone, Apple entre outras. O ETF troca as ações destas empresas pelos rendimentos obtidos no índice MSCI India (mais-valia, dividendos, etc) com a entidade financeira que realizou o contrato de troca, neste caso específico, a Société Générale.
 

Este tipo de replicação pode ser útil ao investidor quando pretende investir em mercados de difícil acesso ou com menor liquidez, caso dos mercados emergentes ou commodities, por exemplo.
Para as emissoras deste tipo de ETFs, poderão beneficiar de custos mais reduzidos, seja pela aquisição indireta desses ativos ou por benefícios fiscais que o contrato de troca (swap) possa conceder. Essa redução de custos pode ser transportada para o investidor, que deverá ter um TER mais reduzido. Outra vantagem é o baixo desvio da performance do ETF perante o índice adjacente, visto que está contratualizado receber o seu retorno – este desvio chama-se Tracking Error.

Contudo existem riscos, o principal é o chamado risco de contraparte, isto é, quando uma das entidades não cumpre o que está contratualizado nesse acordo swap. No caso de incumprimento ou mesmo falência de uma das entidades envolvidas, o investidor poderá ter problemas para receber os seus ganhos. Dado a este aspeto, a replicação sintética é vista como menos segura e transparente face à replicação física. Dado a esse facto, a legislação europeia possui um conjunto de regras, impostas com a regulação UCITS, como por exemplo: um ETF não pode ter uma exposição de contraparte acima dos 10% do seu valor NAV. Desse modo é reduzida a probabilidade de perdas do investidor, no caso de um possível incumprimento. 

No caso das análises feitas neste espaço, darei sempre prioridade a ETFs com replicação física, pois considero ETFs mais seguros e perceptíveis. Contudo os ETFs sintéticos podem ser uma boa alternativa para entrar em certos mercados, com menores custos. 
Sempre que analisado um ETF sintético será devidamente identificado como tal. Se pretender saber mais sobre o método de replicação de um ETF, pode usar plataformas como a Trackinsight ou o Justetf, este último tem também vários artigos nesta temática.

   by Miguel Oliveira